A reflexão sobre a distinção entre a verdade aparente e a verdade absoluta, personificada em Jesus, é uma jornada profunda e reveladora. Quando Jesus se dirige aos líderes religiosos afirmando que eles têm por pai o diabo, Ele não está apenas fazendo uma crítica à sua moralidade, mas indicando uma falha fundamental em sua compreensão e prática da verdade.
A verdade aparente é aquela que pode ser percebida superficialmente, mas que, em essência, pode ser distorcida ou manipulada. Muitas vezes, as interpretações humanas da lei e das Escrituras são apresentadas com uma fachada de verdade, mas escondem intenções e objetivos que não são libertadores. Essa manipulação é sutil, como a serpente no Éden, que introduz uma ideia enganosa sob a forma de uma verdade condicionada. A afirmação de que Eva se tornaria "igual a Deus" não era uma mentira direta, mas uma distorção da intenção divina, que visava desviar a humanidade de sua verdadeira liberdade e relação com o Criador.
Os líderes religiosos, apesar de serem exímios intérpretes da lei, estavam, inadvertidamente ou não, perpetuando um sistema que não promovia a liberdade, mas sim a opressão. A Lei de Moisés, que deveria ser um guia para a vida e a liberdade do povo, tornou-se um instrumento de controle, limitando o livre arbítrio e mantendo a população em um estado de subjugação. Essa distorção se assemelha à forma como Satanás opera: ele oferece uma verdade que, embora pareça correta, tem como objetivo final desviar o ser humano do caminho da vida plena que se encontra em Jesus.
Um exemplo claro desse engano é a tentação de Jesus no deserto. O diabo, ao citar as Escrituras, usa salmos para tentar convencer Jesus de que Ele poderia realizar feitos extraordinários como uma prova de Sua filiação divina. Ao dizer "Está escrito: aos seus anjos dará ordem a teu respeito", o diabo distorce a verdade contida na Palavra de Deus. Ele tenta manipular o conhecimento bíblico, sugerindo que Jesus deveria usar Seu poder sobrenatural para se afirmar como Filho de Deus. Aqui, vemos como uma verdade, quando retirada de seu contexto e apresentada com uma intenção obscura, se torna um engano. O objetivo não era apenas testar Jesus, mas desviá-Lo de Sua missão e do propósito divino que exigia Sua submissão e sacrifício.
Jesus, ao se apresentar como a verdade, o caminho e a vida, oferece uma libertação radical daquelas amarras. A verdade absoluta não está sujeita às interpretações humanas falhas e maliciosas; ela é um convite à autenticidade e à liberdade. Através de Sua vida, ensinamentos e sacrifício, Jesus revela a verdadeira essência da lei, que é o amor, a compaixão e a reconciliação.
A condição humana muitas vezes se encontra emaranhada em verdades aparentes que nos aprisionam. A interpretação das Escrituras e dos princípios de vida podem ser moldadas por interesses pessoais e estruturas de poder que buscam manter o controle. Quando a verdade é utilizada como um instrumento de domínio, ela se transforma na maior mentira da humanidade. Os líderes religiosos que se afastam da essência do amor e da liberdade oferecida por Cristo acabam servindo a um propósito que não é divino, mas demoníaco.
A busca pela verdade deve ser genuína e desinteressada, guiada pelo desejo de libertação e não de controle. Como seguidores de Cristo, somos chamados a discernir entre a verdade aparente e a verdade absoluta, a fim de refletir a luz de Jesus em um mundo cheio de enganos. É um chamado à autenticidade, à humildade e à busca incessante por uma relação verdadeira com Deus, que nos liberta das correntes da interpretação errônea e nos conduz ao conhecimento da verdade que salva.
JGF
“ Mostra- nos O Pai é o que nos basta.”
Felipe ainda não alcançava intelectualmente as palavras nem espiritualmente o sentido do que Jesus dizia. Era como se implorasse por um intermediário que o apresentasse ao pai, assim como um cristão que não vê Deus por si só, mas procura sempre a confirmação de um líder terreno. Era como se, ao ver o semblante divino, não pudesse acreditar que a visão era real e, ao ouvir Jesus, duvidasse de estar ouvindo a Deus. Tudo isso era reflexo do que tradicionalmente aprendera: que somente os sacerdotes poderiam ter contato com Deus. Era a síndrome do Sinai. "Não fale Deus convosco, mas fale Moisés", era o que dissera o povo por temer ouvir a voz do Eterno. Então, Moisés ouvia Deus e falava ao povo.
A síndrome do Monte ainda acontece, porque o povo é ensinado a não ouvir a Deus. Seus líderes ensinam que, se alguém ouve a Deus, é uma farça, e que, sem o aval deles, isso não se configura como voz de Deus. Assim, o povo passa a ter seus líderes como a única fonte de informação sobre a vontade divina. Então, não se ouve mais a Deus sem a confirmação de um homem. "Estou há tanto tempo convosco e ainda não me conheces? Quem vê a mim vê o pai". Havia passado o tempo em que somente o sumo sacerdote tinha acesso ao santo dos santos; o véu se rasgaria em sua carne. O santo dos santos ficaria exposto a quem tivesse a percepção espiritual de que o ministério sacerdotal terreno havia acabado e que o sacerdote eterno que conduz ao santuário estava ali diante dele, sem intermediações. "Eu e o pai somos um; e cada um pode ser um conosco. Viremos e faremos nele morada".
Essa promessa de fazer morada no que crê não pode se cumprir no cristão enquanto ele não puder enxergar o pai; enquanto ainda precisar de direção terrena. Muitos cristãos ainda dizem a seus líderes: "Mostra-nos o Pai", incapazes de compreender Deus em Jesus.
JGF